quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

CAD Central de Atendimento Divino

- Olá, eu sou a Lady Muphy da Silva. Fui contemplada com uma viagem a este plano, a qual chamamos de vida na Terra há duas décadas. No pacote que recebi, continha um exclusivo corpo do sexo feminino, estatura mediana, com membros superiores e inferiores, assim como acessórios, todos em perfeito estado. Ao longo das décadas, os problemas que sugiram foram irrelevantes. O mesmo recebeu apenas duas intervenções, que aqui costumamos chamar de adorno corporal. Um foi um furo no nariz, ou piercing, que aliás já foi removido, e a outra é um desenho, chamado também de Tattoo, tatuagem. ..
- ...
- Pois bem, acontece que, de um tempo pra cá, ele apresenta alguns problemas, incômodos, para ser mais exata, algumas dores . A dor por si só não me incomoda, sério. O que me incomoda é sua persistência e o poder ser que o problema sea outro, tipo... o buraco seja mais embaixo, com o divino perdão da palavra.
-...
- Pois bem, o que eu gostaria de saber é simples. Como os abusos que cometi com ele são passíveis de remissão, quero saber se é possível o envio de algum auxílio celeste, uma entidade especializada, sei lá, que realize uma "manutenção" dele ou se seria possível assim, quem sabe..
-...
- Ok, ok... entendo, entendo... sei que, o que estou falando é...
- ...
- Sim, eu sei, eu sei. Mil perdões. Zilhões de desculpas!
-...
- Ah, sim... eu conheço o Grande Manual... li algumas vezes...
- ...
- Sim, eu li, sim...
-...
- Isso eu ja imaginava...
- ...
- Contra as Leis Divinas ? Sei... sim...
-...
- Impossível a reposição de peças através de vocês? Apenas itens de fábrica? Não, isso eu já imaginava ...
-...
- Que eu deveria...? Aham , sei... Ok, tudo bem.
- ...
- Que eu deveria ? Ah, não, muito obrigada! Eu já tenho o ramal de lá, digo, uma linha de comunicação direta lá, sim! Obrigada mesmo...
-...
- Ok, pode deixar, vou procurar aqui na Terra mesmo alguém especializado... e, sim, eu sei, sem abusos...
- ...
- Sim, obrigada. Já li sobre o stress , sim ...
- ...
-Ok, obrigada!

Fatos da vida como ela é ... Profissão Socialite

Elegante como um cisne no lago, Madame De Alguma Coisa chega a recepção do Mais Um Órgão Público para regularizar a documentação do seu Carrus Importado Zerus Sport recém- comprado, pois sua preciosa cabecinha de fios de cabelo de ouro acabou esquecendo. Como qualquer mortal, para ser atendida vai precisar aguardar sua vez, retirar sua senha, e repensar sua vida sentada nos Banquinhos da Eternidade .
Ela consegue, num esforço sobrehumano, esperar pacientemente durante alguns [poucos] minutos. Cansada de ficar plantada por cinco minutos e, valendo-se de seu cargo de Madame-Esposa-de-Um-Homem-Importante, vai até o primeiro guichê e esbraveja para o atendente, que para sua surpresa, se nega a dar prioridade. Diante da recusa, Madame dispara:

- Escuta aqui, você sabe COM QUEM ESTÁ FALANDO?
Pacientemente, ele responde:
- Não, acho que não, senhora...de qualquer forma, peço que aguarde, por favor.
Contrariada, ela avisa, histérica:
- Eu sou a Sra. Madame Alguma Coisa Importante da Silva, e sou esposa do Sr. Homem de Qualquer Coisa Importante. Ele é o Super Chefe da Prevalecendo Sobre Todas as Coisas Corporation!!!
Incrédulo, ele revida:
- Ah, é?! E por acaso a senhora sabe com-quem-está-falando?! Eu sou o Sr. Funcionário Atendente de Uma Divisão Pública da Silva, marido de Sra. Secretária Escolar da Silva! Ela é Secretária de Operações Pedagógicas da renomada Alguma Escola Pública Qualquer!

E Sra. Madame Contrariada vai embora, pisando duro, sem dizer mais uma palavra.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Diálogos -

Às seis da manhã, a caminho do trabalho, minha mãe, enquanto dirige, diz:

- Uuuui, não acredito que eu fiz isso...
- Isso o quê?
- Você não viu ali atrás?
- Não..
- Você não viu que atropelei um gato? Eu não vi, acabei me distraindo, vi dois conhecidos na rua e ele estava na beirinha da rua. Quando vi, já era tarde, passei por cima dele.
- Ai, não, mãe! Não creio! Judiaria!
- Ah, mas eu não vi... agora já foi. Putz!
- Putz, mesmo!
[segundos de silêncio]
- Ah, mas ele já estava morto...
- Hã? Como assim "ele-já-estava-morto" ?!
- Sim... quando passei, ele já estava mortinho.
- Ah... então tá!
- É... dá nada...

...
...

- Ah, mas mesmo assim ... A sensação do to-tof é horrível!
- Claro que é! Péssima!



Não, minha mãe não tem o hábito de perseguir felinos distraídos em beira de calçada. A última vez, há duas semanas, foi um passarinho que, segundo ela, estava se bobeando na frente do carro...